quarta-feira, 21 de julho de 2010

Gênero, corpo, conhecimento

JAGGAR, Alison M.; BORDO, Susan R. Gênero, corpo, conhecimento. Rio de Janeiro: Record Rosa dos Tempos, 1997.

Pois, em comparação com qualquer outro período, nós, mulheres, estamos gastando muito mais tempo com o tratamento e a disciplina de nossos corpos, como demonstram inúmeros estudos. Numa época marcada pela reabertura do âmbito às mulheres, a intensificação de tais regimes parece diversionista e desmobilizadora. Através da busca de um ideal de feminidade evanescente, homogeneizante, sempre em mutação – uma busca sem fim e sem descanso, que exige das mulheres que sigam constantemente mudanças insignificantes e muitas vezes extravagantes da moda [...] por meio de disciplinas rigorosas e reguladoras sobre a dieta, a maquiagem, e o vestuário – princípios organizadores centrais de tempo e do espaço nos dias de muitas mulheres – somos convertidas em pessoas menos orientadas para o social e mais centradas na automodificação. Induzidas por essas disciplinas, continuamos a memorizar em nossos corpos o sentimento e a convicção de carência e insuficiência, a achar que nunca somos suficientemente boas. Nos casos extremos, as práticas da feminidade podem nos levar à absoluta desmoralização, à debilitação e à morte (p. 20)

Com o advento do cinema e da televisão, as normas da feminilidade passaram cada vez mais a ser transmitidas culturalmente através do desfile de imagens visuais padronizadas. Como resultado, a feminidade em si tornou-se largamente uma questão de interpretação [...] ficamos sabendo das regras diretamente através do corpo: por meio de imagens que nos dizem que roupas, configuração do corpo, expressão facial, movimentos e comportamentos são exigidos (p. 24)

Ao mesmo tempo que continuam sendo ensinadas às mulheres jovens – ‘em ascensão’, as virtudes tradicionalmente ‘femininas’, na medida em que elas penetram em áreas profissionais, também precisam aprender a incorporar a linguagem e os valores ‘masculinos’ desse âmbito – autocontrole, determinação, calma, disciplina emocional, domínio etc. Os corpos femininos falam agora dessa necessidade em sua configuração corpórea reduzida, enxuta, e no uso de roupa mais próxima da masculina, em moda atualmente. Nossos corpos, quando nos arrastamos todos os dias para a ginástica e resistimos ferozmente às nossas e aos nossos desejos de gratificar e mimar a nós mesmas, também estão se tornando cada vez mais habituados com as virtudes ‘masculinas’ de controle e autodomínio (p. 26)

Através do discurso, o corpo humano é territorializado num corpo masculino ou feminino. Os significados do corpo no discurso realmente moldam a materialidade do corpo real e seus desejos complementares. As práticas discursivas masculinas ou falocêntricas têm historicamente moldado de demarcado o corpo da mulher para ela mesma. Na verdade, o corpo da mulher é excessivamente determinado. Conseqüentemente, falar o corpo pressupõe um corpo real com suas construções anteriores a serem desconstruídas pela mulher no processo de se apropriar discursivamente de seu corpo (p. 69)

Num certo sentido, desfizeram-se do pouco poder social de que dispunham como grupo, sem receber uma parte igual do poder e privilégio masculinos, qualquer que seja a definição que se dê a eles [...] as mulheres deveriam procurar insistir em seus poderes reprodutivos e procriativos como estratégia política e como reconhecimento do fato biológico de que dão à luz crianças a partir de seus próprios corpos e têm, portanto, um direito particular de controlar como esse processo é conduzido (p. 133)

terça-feira, 29 de junho de 2010

A troca (Changeling)

Sempre fui fã da Angelina Jolie pois, além de todas as suas ações humanitárias, de ter se casado com o Brad Pitt e de ter MUITOS filhos (alguns adotados, outros não), a considero - junto com Monica Bellucci - uma das mulheres mais lindas que já vi. Mesmo estando, de uns tempos pra cá, um pouco magra demais.

Mas, depois desta... REALMENTE virei fã! Dela e de Clint Eastwood (pra quem, sinceramente, nunca dei muita bola). O filme é realmente... Nem tenho palavras! Com certeza, o melhor que vi nestes últimos tempos. E olha que tenho visto alguns filmes muito bons! Mas este, superou minhas expectativas! Taí o trailler:



Basicamente, é uma HISTÓRIA REAL, sobre uma mulher (Christine Collins) que, em 1928, tem seu filho "trocado" pela polícia de Los Angeles. Desaparecido, a polícia tenta "substituir" a criança, pra melhorar a imagem que, na época, estava bem ruim diante da opinião pública. Como não poderia deixar de ser, Christine sabe que aquele não é seu filho. E luta, de todas as formas que pode, pra provar que é impossível que alguém dimuia (por stress, em menos de seis meses), mais de dez centímetros de altura. Estas são as fotos reais, de Christine e seu filho, Walter.






Tradução da legenda: "Os olhos de meu filho são grandes e redondos. Meu filho tem as maiores orelhas de minha família. O cabelo de meu filho é castanho. Os dentes de meu filho são bem separados. Meu filho é de minha altura. Meu filho nunca foi operado".




A polícia chega a mandar um "médico especialista com explicações científicas", pra que ela aceite a possibilidade de que o sequestrador tenha circuncidado seu filho com "fins práticos de higiene". E que, com isto, ela possa "recobrar seu instinto maternal". Então, ela procura antigos médicos e professores de seu filho, pra que eles façam declarações nas quais digam que, de fato, seu filho ainda não foi encontrado.

Como incomodou o suficiente, ela é mandada ao manicômio pelo "cógigo 12". Que é, basicamente, um código pelo qual qualquer mulher que tenha algo contra um policial, é considerada louca (coisas como abuso de poder, agressão física ou estupro). E é, nesta parte, que tem o melhor diálogo do filme! Procurei um monte no YouTube, mas infelizmente não achei!

Nele, uma das pacientes (também internada pelo "código 12"), explica pra Christine que tanto ela, quanto muitas outras, foram parar lá simplesmente porque "se acredita mais em um homem policial, do que em uma mulher louca". Pois, na época, as mulheres eram vistas como "naturalmente irracionais", e assim, nada do que falassem ou fizessem era considerado.

Filme obrigatório, aliás, pra todos os que acham que o movimento feminista nunca serviu pra nada, ou que só serviu pra atrapalhar. Taí um exemplo típico da mulher dentro de uma sociedade machista, que a considera inferior e sem direitos.

É como já disse: se você acha que sua avó/mãe/irmã/esposa/filha não têm direito de escolha política, propriedade econômica, liberdade matrimonial e posse sobre seu próprio corpo e sexualidade, então, de fato você é contra o movimento feminista.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A mídia e a auto-estima feminina - Perussello e Mercer

Video do YouTube, feito por Bruna Perusselo e Marcos Vinícios Mercer... A qualidade não é muita, mas a mensagem com certeza compensa.

Top 3:
"[...] sugerindo que não podemos nos sentir felizes e bonitas se não correspondemos ao padrão de beleza".
"A mídia igualmente influencia as mulheres a acreditar que tudo em seu corpo que foge ao padrão estabelecido é um defeito. Um defeito que a todo custo deve ser consertado".
"Não corresponder ao padrão de beleza vigente não é um defeito ou um motivo pra se sentir infeliz".

Ótima iniciativa! Parabéns!

Gerson Lopes e os orgasmos femininos

Ginecologista (presidente da Comissão Nacional de Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) discute a atual obrigatoriedade do orgasmo feminino.

Top 3:

"É como se fosse um regime ditatorial em relação ao orgasmo. O direito ao gozo não pode ser substituído pela obrigação de tê-lo".
"Porém, dizem que machismo é uma doença igual a hemofilia – existe em homem, mas quem transmite é a mulher".
"A pergunta cretina “você chegou?“ não traduz uma preocupação com ela e sim uma forma de autoavaliação. Ela chegando, significa para ele que desempenhou bem seu papel".

Leia a versão completa aqui.

sábado, 26 de junho de 2010

Nasceu um chifre em mim - Teatro Lala Schneider

Acabei de voltar da pior peça de teatro de minha vida! E, em pleno século XXI, vi uma platéia inteira aplaudir de pé (!) mais de uma hora e meia de xingamentos gratuitos, machismo explícito e uma história que, sinceramente, não sei como alguém (neste caso, João Luiz Fiani) pode ter coragem de admitir publicamente que escreveu e dirigiu.

Sente o drama: dois "homens" (um comerciante e um agricultor), que tratam muito mal as suas respectivas esposas, decidem, por idéia do mais velho e rico, fazer uma troca. Entram em comum acordo porque o mais novo e pobre quer, além de uma mulher que saiba cozinhar, a espingarda do outro. E o outro, que cansou de sua mulher "passada" (que nem "café velho", diria ele), quer uma "tetéia" nova.

Mesmo a forma como estes "homens" tratam suas respectivas esposas, já é completamente inaceitável. As agridem TODO O TEMPO, e ameaçam fisicamente muito mais que uma só vez. Tinham crianças na platéia! É este tipo de lição que vocêr quer ensinar a seus filhos? Que pode xingar e bater, ou apanhar e ser xingada? Pela reação da platéia (risos e aplausos), este tipo de coisa deve ser muito engraçada.

Quando falaram da troca, sinceramente não acreditei. Muito menos quando o mais novo "pechinchou" sua mulher que, por estar até então mais valorizada, não valeria apenas a mulher do outro, mas também a sua espingarda (o real "objeto de desejo" da história toda, aliás). Que tipo de idéia esse cara faz das mulheres? Com certeza não deve ser casado, não é possível... Pois as mulheres, para ele, simplesmente iriam, de um lado para o outro. E valeriam menos que uma arma.

Sinceramente? Nunca gostei muito Teatro Lala Schneider. O que é uma pena, pois moro praticamente na frente e admiro muito a primeira-dama do teatro paranaense. E acho até acho que os atores são carismáticos. Mas as peças... Olha, um pior que a outra (e não é apenas minha opinião, muitos já falaram o mesmo), e esta é a pior de todas! Que vergonha...



E pra piorar, outra m**** que a Globo faz. Isto tudo começou com a "Casos e causos", que passa na emissora pela Revista RPC! Antes se chamava "Doce Cobiça", e pra você ver que não estou inventando, olha o comercial...



Nossa, teria tanta coisa a mais pra falar! Mas nem vale a pena... Não me passou absolutamente nada. Só me fez é passar raiva, isto sim.